segunda-feira, 8 de março de 2010

(Re) Descobrir



E já que não consigo encontrar significado neste dia contrariamente a este poema sempre que o leio, hoje, apetece-me partilhar. Para quem conhece, vale a pena reler e para quem desconhece merece ser descoberto. No fundo, a mulher, tal como os poemas, são merecedores da "descoberta".

Elas são as mães:
rompem do inferno, furam a treva,
arrastando
os seus mantos na poeira das estrelas.
.
Animais sonâmbulos,
dormem nos rios, na raiz do pão.
.
Na vulva sombria
é onde fazem o lume:
ali têm casa.
Em segredo, escondem
o latir lancinante dos seus cães.
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Nos olhos, o relâmpago
negro do frio.
.
Longamente bebem
o silencio
nas próprias mãos.
.
O olhar
desafia as aves:
o seu voo é mais fundo.
.
Sobre si se debruçam
a escutar
os passos do crepúsculo.
.
Despem-se ao espelho
para entrarem
nas águas da sombra.
.
É quando dançam que todos os caminhos
levam ao mar.
.
São elas que fabricam o mel,
o aroma do luar,
o branco da rosa.
.
Quando o galo canta
Desprendem-se
para serem orvalho.
.
Eugénio de Andrade
.

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